terça-feira, 25 de outubro de 2011

MINHA MONOGRAFIA (Parte VIII)

A TRANSVALORAÇAO DE TODOS OS VALORES

A ousadia do espírito nietzschiano tece um projeto de uma envergadura histórico-cultural sem precedentes – apontar um horizonte de novíssimos valores para uma humanidade sobrecarregada pela inversão axiológica cristã. Para Nietzsche, não há um só valor cristão que realmente represente a avaliação e a valoração do homem, no que há nele de natural. A moral cristã lançou um véu, uma nuvem escura, sobre os conceitos axiológicos mais puros, para então instaurar sua ética, estabelecer sua cultura e desvirtuar as concepções humanas.
A filosofia nietzschiana é um dedo apontando o caminho – “uma ponte sobre um abismo”, levando ao outro lado, à superação de si mesmo. Dois mil anos de cristianismo afundaram a Europa e todo o Ocidente em falsas concepções, em falsos valores, produzidos por errôneas avaliações, sendo necessário agora, para o resgate de nosso direito natural de medir, pesar e valorar, uma transvaloração de todos os valores cristãos.
Qualquer rápida observação criteriosa dos enunciados cristãos deixa às claras o quanto houve de deturpação valorativa. Vejamos alguns exemplos: “os primeiros serão os últimos”, “o menor será o maior”, “aquele que se humilhar será exaltado”, “quem morrer viverá”, “os mansos herdarão a terra” – talvez estes já sejam suficientes. O que a História nos conta vai na contra-mão de todo o relato bíblico. Somente os fortes venceram, sobreviveram, perpetuaram sua espécie e herdaram a terra. Os hebreus nunca encontraram sua terra prometida e os judeus de Israel ainda não testemunharam o retorno de Elias. Os cristãos de todo o Ocidente, fiéis ao sangue do “Cordeiro” e subjugados ainda pela fome, pelas doenças e pelas guerras, precisam de muita fé e “desespero” (uma total falta de esperança) para acreditarem nas palavras do profeta que vaticinava a imolação do Cristo: “Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades e carregou com nossos sofrimentos” (Is. 53,4).
No século XI, com o Cisma do Oriente, em 1054, o cristianismo sofreu seu primeiro golpe institucional – foi dividido em Igreja Católica Apostólica Romana, sob o comando do papa, e no Oriente, a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, sob orientação do patriarca. Mas isso não foi suficiente! Quando no século XVI, a Igreja cristã se debatia e agonizava sob o peso da própria corrupção interna, denunciada por Lutero, a Reforma veio, não para dar “o tiro de misericórdia”, e sim para renovar as forças de um moribundo, que desde então ganhou sobrevida. O cristianismo se arrasta, mas tem o meticuloso cuidado de manter seu dedo em riste, para condenar qualquer avanço cultural e científico de real expressão (no passado, homens como Galileu Galilei e Giordano Bruno e, na atualidade, as questões do aborto, da contracepção e das células-tronco, ilustram muito bem). A fé cristã exorta os homens a uma humilhação religiosa e submissão para neutralizar sua “vontade de potência” – é o que dirá o filósofo.

“O niilismo, como condição psicológica, aparecerá primeiramente, logo que sejamos forçados a dar a tudo o que acontece o “sentido” que aí não se encontra: dessa forma, quem procura, acabará por perder a coragem. O niilismo é pois o conhecimento do longo desperdício de força, a tortura que ocasiona esse “em vão”, a incerteza, a falta de oportunidade de se refazer de qualquer maneira que seja, de tranqüilizar-se em relação ao que quer que seja, a vergonha de si mesmo, como se fôramos ludibriados por longo tempo”

(NIETZSCHE, 2004, p. 94).

Para Nietzsche, a herança do cristianismo para a Europa é uma pesada nuvem sombria, plena de niilismo, pessimismo, ressentimento, falsos valores e desprezo pelo próprio homem. A transvaloração de todos os valores cristãos tem como prerrogativa uma novíssima consciência livre de “Deus”.
Bernadette Siqueira Abrão, organizadora da obra “História da Filosofia” (Coleção Os Pensadores) tenta nos esclarecer a necessidade da morte de Deus para o ideal nietzschiano, da seguinte forma:

“Mas por que a morte de Deus deve implicar a desvalorização dos demais valores? Para compreender isso deve-se levar em conta que, para Nietzsche, a morte de Deus é apenas um capítulo de uma história bem mais longa: a morte do mundo-verdade, ou seja, o fim do platonismo. Assim, o niilismo significará também que nada é verdadeiro, e por isso mesmo tudo é permitido (...). Se o “cristianismo” não é mais a “verdade”, mas “apenas uma perspectiva entre outras”, é como tal que ele deve ser analisado. A partir de agora, a nossa “civilização” tornou-se um texto a mais, submetido à analise do filólogo”.

(ABRÃO, 2004, p. 413)

É imprescindível que se tenha claro que o objetivo do filósofo não é meramente combater um ser supremo ou uma religião. Sua meta é amplamente histórica, cultural e moral. Para tanto, seu ataque precisa ser exatamente contra a maior pilastra dessa instituição religiosa, da Igreja cristã. Quase podemos ouvir sua voz reconsiderando: “nada contra os céus, contanto que nos deixem em paz!”, seria uma possível sentença nietzschiana. Se, para nos sentirmos livres e renovados, é necessário o sacrifício de alguém, nada mais glorioso do que a morte de um deus – poderia ser este o artigo número um da fé nietzschiana.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

MINHA MONOGRAFIA (Parte VII)

A MORAL DE REBANHO

A vida, conforme a compreende Nietzsche, é luta incessante, vontade de domínio, “vontade de potência” – um palco de vencedores e vencidos, no qual, a qualquer momento da história, uns podem virar os outros, num processo incessante de superação e auto-superação. Em contrapartida, o que se estabeleceu com o nome de moral, no parecer do filósofo, e que é fundamentalmente a própria moral cristã imposta ao ocidente, é um atentado à vida e à natureza, portanto, um delito contra o próprio homem.
Para o filósofo, o homem é filho da Terra – ele é corpo e vontade de sobreviver e vencer. Se falarmos em virtude, o filósofo nos dirá que as verdadeiras virtudes do homem só podem ser o orgulho, a alegria, o amor sexual, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade e o reconhecimento do sentido da Terra. Porém, as virtudes exigidas pela moral cristã combatem os instintos naturais do homem – humildade, compaixão, bondade, renúncia, autopenitência, não passam de deturpações e autoflagelamento do homem. A moral para Nietzsche é “imoral”.

“A moral é a forma mais maligna da vontade de mentir, a verdadeira Circe da humanidade: é o que precisamente a tem corrompido. Não é o erro, como erro que, neste aspecto me causa espanto; não é falta de “boa vontade”, de disciplina, de decência, de coragem intelectual que sofremos a milhares de anos; é a ausência da naturalidade, o fato espantoso de que a contranatureza tem sido venerada com as maiores honras, sob o nome de moral, e ficou suspensa, como uma lei, acima da humanidade”.

(NIETZSCHE, 1990, p. 173.)


As noções de moral e de virtude encontradas em Nietzsche tendem para o sentido natural e não para uma tentativa de amoldar comportamentos e disposições existentes no homem a uma forma “ideal”, a um modelo religioso – numa palavra, a uma concepção cristã. “Para Nietzsche a verdadeira virtude não precisa de porquês. A prática do bem não deve estar condicionada a uma praga ou ao terror de um castigo” (nota de rodapé de Mário D. Ferreira Santos, in Vontade de Potência, p. 186).
Mais adiante, o próprio filósofo declarará sua indignação.
“(...) a história da luta da moral contra os instintos fundamentais da vida é a maior imoralidade que até hoje já existiu sobre a terra...” (Nietzsche, 2004, p. 190).
O repúdio ao cristianismo e a declaração da “morte de Deus” fundamentam-se no filósofo a partir da convicção de que é a moral cristã que impregnou toda a mentalidade e cultura ocidentais de antinaturalismos e entraves para uma humanidade mais vigorosa e criativa, e de que “Deus” é a denominação cristã para tudo que despreza a vida, calunia a natureza e humilha o homem. Segundo Nietzsche, a religião judaico-cristã é a forma mais mesquinha e desonesta de ressentimento; é a tentativa danosa de um povo em sofrimento de, não encontrando seu lugar e seu valor sobre a Terra, inculcar nos demais povos a idéia de que há um Deus todo-poderoso que zela por ele e castiga seus inimigos de forma vingativa e definitiva, e de que somente os “valores espirituais” podem outorgar à alma uma morada no além, no “reino dos céus”.
A idéia de “moral de rebanho” vem concomitante à de que os cristãos são guiados por um “pastor”. O rebanho cristão, que se arrasta desde a antigüidade, sem encontrar seu lugar e tendo por condição humana o sofrimento e a escravidão, apela para uma entidade metafísica, extra-mundana, a-histórica, e apregoa valores e virtudes, tais como piedade , tolerância e abnegação, mas na prática, deixa denunciar seu ressentimento contra o homem forte, o povo bárbaro, ao senhor dominante da terra em que habita. Em vista disso, Niestzsche irá considerar essa moral cristã como também sendo a “moral do escravo” – aquele que cria valores espirituais, elevados, em si, para desconsiderar os valores mundanos do seu senhor.
“Que é que determina o valor superior? Que é exatamente a moral? – O instinto de decadência; é para os esgotados e os deserdados uma forma de se vingarem” (Nietzsche, 2004, p. 232).
O rebanho – o povo hebreu – deturpou todas as concepções e todos os valores que encontraram nos povos que o escravizaram. Ou seja, a moral do “senhor” – aqui significando os adversários do povo eleito - recebeu um significado negativo – injustiça, imoralidade e mentira – e estabeleceu-se tudo o que era a negação do que ali havia. Daí temos: a justiça, a moralidade e a verdade só são possíveis a partir de uma leitura ou de uma vivência na fé judaico-cristã, tudo mais é erro! Alquebrar a força dos fortes e inverter valores são os ideais cristãos.


“O cristianismo pretende dominar homens ferozes; o meio de conseguir é torná-los doentes”. (...) ninguém tem a livre escolha de se fazer cristão; uma pessoa não se converte ao cristianismo, é necessário estar suficientemente enfermo para isso ...”

(NIETZSCHE, 2000, p. 55, 90).

A moral de rebanho – a ética cristã, seus postulados, valores e virtudes - impregnou a humanidade de uma inversão de consciência. Tudo o que era útil, valoroso, vigoroso, instintivamente humano, foi rotulado de “pecado”; toda a vida, toda a existência degenerou para a “expiação”; o simples fato de nascer já era um erro que precisava ser reparado com o sacrifício, com o arrependimento, com a humilhação. O rebanho precisava ganhar terreno neste mundo e inventou o desprezo pela terra, a negação da natureza, o niilismo. Como uma aranha lançou suas teias ‘invisíveis” por toda parte e apanhou insetos de variadas espécies. Nietzsche lamenta que homens da qualidade de Pascal, Espinosa, Kant, Schopenhauer e Wagner se tenham deixado capturar por tão infame ardil. O filósofo condena Sócrates, Platão e Epicuro por estabelecerem as bases filosóficas do cristianismo, e Agostinho e Tomás de Aquino por se encarregarem de ser eles próprios os filósofos do cristianismo.
“E os filósofos apoiaram a Igreja, a mentira da “ordem moral universal” percorre toda a evolução da filosofia até à mais moderna”. (Nietzsche, 2000, p. 60).
O homem-dimamite considerava impossível ser-se, a um só tempo, filósofo e cristão. Note-se que, para Nietzsche, filósofo é sinônimo de “espírito livre”, portanto, completamente o oposto de “rebanho”.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MINHA MONOGRAFIA (Parte VI)

Dando continuidade à Minha Monografia, agora veremos como tratei a transformação que ocorreu na noção de Deus, do Velho para o Novo Testamento, e como Nietzsche analisa essa "degenerescência" do Todo-Poderoso do cristianismo.

O DEUS DOS CRISTÃOS


Aqui, tentaremos deixar claro como o povo hebreu manipulou a noção de seu próprio Deus, para se adequar, adaptar-se historicamente.
No Antigo Testamento, Deus se apresenta a Moisés da seguinte forma:

“EU SOU AQUELE QUE SOU”, “assim falarás aos israelitas: é Javé, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, que me envia junto de vós. – Este é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração”
(EXÔDO, 3:14;15)

A palavra Javé, originalmente quer dizer “Ele é” (Iahweh), ou ainda pode se chamar Jeová, como é comum entre os “Testemunhas de Jeová”, que se baseiam, ao contrário das seitas cristãs neo-pentecostais, no Primeiro Testamento.
Javé é senhor, pastor e guerreiro, note-se, não de toda a humanidade, mas somente do povo eleito por ele, ao qual concede sua graça, sua bênção e paciência, pois esse mesmo povo, os hebreus, se demonstraram a gente mais infiel, descrente e traidora de toda a humanidade, fazendo com que Javé ora se regozige, ora se arrependa de tê-los como protegidos.
“Bendito seja meu povo do Egito, a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança!” (Is. 19, 24), e mais adiante: “Este povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim (...)” (Is. 29:13)
Esse dilema de “paixão e arrependimento” é uma constante em Jeová.
A despeito de todos os esforços e todos os “milagres” produzidos por Deus, pessoalmente ou através de seus profetas, como Abraão e Moisés, o povo em geral perdia a fé e caia na idolatria barata. Nietzsche a esse respeito tem um comentário bastante pertinente e ilustrativo:
“Para com o seu Deus é que as pessoas são mais desonestas, já que ele não tem o direito de pecar!” (Nietzsche. 2002, p. 88).
Por entre martírios e glórias, Javé conduziu seu povo – exigiu adoração, sacrifício e, ao mesmo tempo, concedeu favores e fez promessas futuras. No entanto, com o decorrer dos anos, segundo Nietzsche, o velho Javé ficou caduco, desmoralizado e enfraquecido:

“O seu Yahweh era expressão do seu sentimento de poder, do prazer e da esperança em si próprio: dele se esperam a vitória e a salvação, com ele se confiava na natureza e em que ela daria o que é necessário ao povo – principalmente a chuva”.
(NIETZSCHE, 2000, p. 59).

A análise psicológica de Nietzsche ainda nos esclarecerá sobre como o povo hebreu, em determinada época, chegou a se sentir.

“(...) mostra-se agradecido pelos grandes destinos que o elevaram à dominação, sente gratidão pela regularidade do ciclo das estações e por qualquer êxito na criação dos animais e na agricultura. Este estado de coisas foi durante muito tempo considerado ideal e era-o ainda quando foi abolido da forma mais aflitiva: no interior, a anarquia, e no exterior, os assírios (...). Mas toda a esperança foi em vão. O deus antigo nada mais podia fazer do que o fizera em outros tempos. Deviam tê-lo deixado sucumbir. Em vez disso, que aconteceu? Modificaram a noção que dele tinham – deformaram essa noção: e por esse preço o conservaram. Yahweh, o deus da “justiça”, já não mantém a sua unidade com Israel, já não é a expressão do orgulho de um povo: não passa agora de um deus condicionado(...)”
(NIETZSCHE, 2000, p. 59).

Essa análise histórico-psicológica é fundamental para que se compreenda o teor da crítica feita pelo filósofo ao cristianismo. Tenta-se, a todo custo, amarrar o Velho Testamento ao Novo, mas essa teimosia, é tentativa inequívoca de dar sobrevida ao moribundo.
Também é interessante reportarmo-nos à história de Jó – servo fiel do Senhor. Vítima da disputa entre Deus e o diabo, vê sua vida arrasada de uma hora para outra, e a certo ponto do desespero sentencia: “em lugar de me condenar direi a Deus, mostra-me porque razão me tratas assim. Encontras prazer em oprimir, em renegar a obra de tuas mãos, em favorecer os planos dos maus?”
Com o advento do Cristo, Javé passa a ser o “Pai que está nos céus”. A lei mosaica de “olho por olho, dente por dente”, como por milagre, se transforma em “dar a outra face”. O discurso de Jesus vai em direção aos sofredores, aos fracos, aos enfermos. O Deus de quem ele fala é manso e misericordioso, tem muitas moradas e já não tem eleitos.
“Tendes ouvido o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mal. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra” (Mat. 5, 38).
Perguntamos: se Jeová é um ser metafísico, a-histórico, absoluto, por que essa adequação aos novos tempos? Não seria mais provável e mais natural considerarmos que não é o Deus todo-poderoso que sofre essa adequação e sim seu povo eleito, os hebreus, que trata inteligentemente de se adequar ao sentido histórico de sua trajetória, ou seja, à realidade em que ora vivia? As palavras do Nazareno talvez sejam mais convincentes: “Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores” (Luc. 5,32).
Nada havia de novo em relação ao povo hebreu, mas agora o Cristo busca os perdidos, outros povos, como se o povo eleito já estivesse redimido.
Para os cristãos, o Cristo veio para que se cumprisse a lei dos profetas do Antigo Testamento, Nietzsche, no entanto, considera que, por uma necessidade histórica, já não era mais possível ao povo eleito sustentar a mesma noção que antes tinha de seu Deus.

“Sem dúvida, quando um povo perece; quando sente desaparecer para sempre a sua fé no futuro, a sua esperança na liberdade; quando a submissão lhe parece ser necessária; quando as virtudes dos servos entram na sua consciência, então é preciso também que o seu Deus se transforme. Torna-se hipócrita, medroso, humilde; aconselha a “paz de alma”, a ausência do ódio, o respeito, até o “amor” tanto para com os amigos como para com os inimigos (...). Em outros tempos, Ele representava um povo, a força de um povo, tudo o que na alma de um povo existe de agressivo e sedento de poder; a partir de agora Ele nada mais será que o bom Deus ...”

(NIETZSCHE, 2000, p. 50).

Para Nietzsche, portanto, o Deus dos cristãos, dos hebreus, não passa de uma adequação histórica, exigida pela evolução natural e resultado da percepção das necessidades do seu tempo. Antes, o implacável e vingativo Javé, agora, o manso e compassivo pai que está nos céus.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

QUESTÕES DO CORAÇÃO

O texto que passo a transcrever neste blog foi enviado para meu e-mail pela "TRINK - tirando os trinco limitadores da realidade", e pode ser conferido em http://feedblitz.com/r.asp?l=52028821&f=406881&u=25534075&c=4078064.
Achei interessante, por isso estou disponibilizando para vocês aqui. Boa leitura e não deixe de enviar seus comentários. Obrigado!

Amor e paixão


Autor: Luciano Pillar

Quem não quer se apaixonar? E amar, quem não quer? Mas, qual a diferença entre estes sentimentos? Vamos a uma breve história fictícia, com leves pitadas de eventos reais, para lançar uma luz nesta questão.

Sentado sob uma árvore num parque vi dois jovens beijando-se apaixonadamente. Subitamente contaminado pelo clima da paixão viajei para um tempo em que eu mesmo estava apaixonado. A sensação de estar intensamente vivo era gritante e sobrepujava tudo o mais. A pessoa por quem eu me apaixonara era uma deusa que tinha mais importância do que tudo no universo. O mundo era belíssimo, acordar de manhã era uma alegria que antecedia a oportunidade de viver mais um dia, eu ouvia o cantar de cada pássaro e o som do vento. Amando e me sentindo amado eu sentia a presença divina em tudo. Eu me sentia vivo e a vida fazia sentido.

- Você já se perguntou por que vocês só costumam ver a incrível beleza da vida quando estão apaixonados? – foi uma pergunta que me pegou de surpresa, pois partiu de um senhor que estava sentado a meu lado e que eu nem sequer tinha visto chegar ali.
- Como? – meio sem jeito retruquei.
- Se uma pessoa vê a beleza da existência apenas quando está apaixonada, seria esta beleza imaginária?
- Perdão senhor, mas, eu o conheço?
- Conhece-me há muito, mas parece não lembrar. Chamam-me de Pilar. – disse-me estendendo cordialmente sua mão.

Ao apertar a mão daquela inusitada pessoa uma impressionante sensação de bem-estar e amorosidade percorreu cada célula de meu corpo e alma. Difícil descrever, mas me senti profundamente acompanhado e vi, de novo, o brilho divino na existência de tudo ao meu redor. Ele sorriu, largou minha mão, virou-se para a frente e passou a olhar para uma árvore adiante de nós com uma impressionante serenidade. Presenciei um estado de rara comunhão entre eles.

- A paixão é uma porta disponível para que qualquer um possa vislumbrar o amor.

Sem me dar tempo de expressar minha surpresa, ele continuou.

- Quem se apaixona deve lembrar desta visão do amor e buscá-lo depois em sua vida. O amor é o sentimento máximo e um dos maiores aprendizados que se espera das pessoas nesta fase de sua existência e não a paixão, que não passa de uma porta temporária.

Voltou a se aquietar e eu, diante daquele estranho que me parecia mais próximo e conhecido do que qualquer um, fui surpreendido por uma lágrima que desceu pela minha face. De repente eu estava consciente do amor, da paixão como uma forma de vislumbrá-lo e da vida cotidiana de quase todos que, sem o efeito da paixão, não conseguem sentir a grandiosidade de tudo.

- A paixão lhes permite experimentar a sensação direta do amor e não apenas suas consequências. Fazer o bem ao amado, ou até mesmo dar a vida por ele, podem ser meras consequências do amor, assim como ficar queimado é do calor. A paixão permite sentir o amor, da mesma forma que podemos sentir o calor.
- Acho que o senhor tem razão, seu Pilar.
- Querido amigo, em alguns momentos de sua vida você mesmo já experimentou a sensação do amor de forma direta, sem a necessidade da paixão. Você lembra do que lhe aconteceu no ônibus?

Estremeci. Quem era o Sr. Pilar? Como ele podia saber de mim? Por que me sinto tão bem em sua presença? Por que ele estava ali comigo?

- Sim, como poderia me esquecer?
- E então, como foi?

Fiz uma pausa que antecedeu uma apresentação maior, mas com uma estranha sensação de que o Sr. Pilar já sabia de tudo.

- Eu estava sentado no ônibus que me levava para casa depois de meu trabalho, indo para minha casa. A minha frente, várias pessoas também estavam sentadas. De repente, algo mudou e eu senti que o ônibus, a rua e os prédios do lado de fora, assim como minha casa e tudo o mais, não tinham importância alguma a não ser prover um palco onde podemos viver. E, então, aconteceu: eu amei todas aquelas pessoas! Senti um amor enorme por todos, sem exceção. Um amor maior e mais completo do que aquele que já havia sentido numa paixão, pois não havia nenhuma tensão, medo da perda ou dependência. Não havia a comum posse e nem nenhuma segunda intenção. Era um amor puro e desinteressado por todas aquelas pessoas que eu sequer conhecia. Elas não só se tornaram familiares, como também unidas a mim. Neste mundo, época e lugar eram elas que estavam ali comigo naquele ônibus e não há acaso num universo tão extremamente organizado como este.
- E quando essa sensação terminou você se perguntou o que é que acontece normalmente quando esse sentimento não está presente na sua vida cotidiana e…
- … e, Sr. Pilar, eu pergunto agora como pode o senhor saber disso? O senhor me conhece? Quem é o senhor?

Ele simplesmente não respondeu com palavras. Olhou ao redor, num estado de encantamento e união com o mundo que ali estava naquele parque. Ele realmente estava com aquelas árvores, pessoas, cães, pássaros, chão, céu e nuvens que nos cercavam e esse estado de presença dele era uma resposta em si. Eu sei quem é ele, mas meu cérebro, mente e ego mortais é que não podem acessar esse conhecimento. Resolvi não perguntar mais nada. Apenas me tornei presente ali.

- A paixão é a coisa mais próxima do amor que o espírito não desenvolvido pode experimentar. Ela faz com que a alma se revolva e saia de si mesma. Quando vivenciam essa força, mesmo as pessoas menos desenvolvidas tornam-se capazes de superar-se. – Sr. Pilar quebrou repentinamente o silêncio com estas palavras.

E continuou.

- Mas a paixão se consome em seu próprio fogo e isso costuma se tornar um problema às pessoas menos desenvolvidas. Sem entendimento, apegam-se à paixão em si e passam a buscá-la se relacionando com várias pessoas durante suas vidas. Lançam-se inconscientemente aos prazeres sensuais na expectativa de encontrarem novamente a paixão, mas o que invariavelmente descobrem é a frustração, pois não há como forçar a paixão a aparecer pela força bruta. E muito menos o amor. Agindo assim, tornam-se meros escravos dos sentidos.
- É triste. – concluí.
- E muitos confundem o amor não apenas com a paixão, mas também com outras necessidades como a sobrevivência, a posição social e a mera dependência dos hábitos de uma vida levada ao lado de outro. É muito comum que as pessoas chamem de amor a muitas coisas que não possuem relação alguma com ele.
- Você pode me dar um exemplo disso, Sr. Pilar?
- Claro. Quando pessoas que se amam se afastam uma da outra, seja qual for a razão, elas costumam se entristecer. Elas também dialogam, identificam as razões da separação, se perdoam por suas falhas e seguem suas novas vidas ajudando-se mutuamente quando necessário. Com o tempo, a tristeza passa. Isso lhe parece claro?
- Sem dúvida.
- Mas, se a tristeza ou mal-estar não passar nunca, então, ao menos uma destas pessoas se apegou à outra. Isso é uma consequência da dependência de algo passageiro – já que tudo passa – e não é originado no amor, mas no apego.
- Sim, entendo.
- Ainda é comum que a separação de uma relação supostamente amorosa resulte em sentimentos de raiva ou ódio. Estes sentimentos não vêm do amor, mas do medo. Geralmente medo de algo que nem é consciente e que foi escondido no relacionamento supostamente amoroso. Esse medo leva a diversas formas de dependência e posse.
- Já presenciei separações matrimoniais de alguns amigos e essa parece ter sido a situação mais comum. – retruquei.
- É ainda o mais comum na atual humanidade devido ao atual estágio de consciência da maioria.

Notando coerência e sabedoria nas palavras do Sr. Pilar, aproveitei para lhe indagar uma questão que me pareceu pertinente.

- Senhor, permita-me lhe perguntar uma coisa: como posso saber se devo me aproximar amorosamente de uma pessoa a despeito de sentir paixão ou não? Interesso-me muito em saber isso porque já me apaixonei e depois, com o tempo e o fim da paixão, percebi que não havia sobrado um sentimento maior.
- Caro amigo, em primeiro lugar entenda que o amor sempre existe e, apenas por isso, você o visualizou através da paixão. Lembre-se de que o amor é uma presença universal responsável pela união de tudo. Nas pessoas ele se manifesta como o maior sentimento que elas são, atualmente, capazes de experimentar. Já a paixão, você sabe, não passa de uma porta que se abre para dar passagem ao amor, mesmo ao mais atrasado dos espíritos humanos. Uma porta que abre rapidamente. E fecha, certamente.
- Sim, entendo.
- O verdadeiro amor existe entre todas as pessoas, mas ele não é visível e perceptível em sua situação normal de vida. Pelo menos não nesta fase de seu desenvolvimento. Você já sabe isso, mas a maioria ainda não.
- Mas – continuou o Sr. Pilar – quanto ao seu questionamento, eu lhe diria que você deve prestar atenção, pois existem algumas pessoas que são especialmente próximas e vocês podem até ter uma conexão maior e mais antiga do que supõe.
- Sei disso.
- Então, você deve prestar especial atenção àquelas pessoas que se aproximam de você de forma natural e harmoniosa. Observe se a presença da pessoa enriquece alegremente a sua vida. Diante destas pessoas procure não pensar nem julgar. Simplesmente não espere nada e ouça seu coração. Sinta-o falar! Você sempre sabe se souber se ouvir. Existe uma grande chance de você estar diante de alguém com quem tem uma forte conexão amorosa para que as coisas se manifestem desta maneira.

Silenciou e finalizou.

- Com o tempo você será capaz de identificar claramente estes sinais e reconhecerá as poucas pessoas com as quais você deve se envolver amorosamente compondo um casal na concepção humana. Nunca deixe passar uma oportunidade destas quando ela se apresentar e, mesmo que não se configure o relacionamento de casal, tente não se afastar desta pessoa.

Após respirar profundamente, Sr. Pilar retomou a palavra.

- Não esqueça que todos devem buscar o amor. Sentir e viver o amor pelo Criador, pelo universo, por si próprio e pelos outros. E tenha claro que a paixão ilumina temporariamente os que ainda não vêem, mas cega os outros. Ela não é o objetivo a ser alcançado.

Silenciei e sonhei com um amor leve, terno e verdadeiro. Nos braços de uma brisa morna, flutuei imerso num odor floral. Flutuei até parar entre várias pessoas desconhecidas. Virei-me e ali estava ela. Seu sorriso me fez sentir que a conhecia há eras. Entre todos foi com ela que conversei o tempo todo. Então, absortos que estávamos em nosso encontro, notamos que todos saíam a caminhar. Nos afastamos e os acompanhamos. Eu andava sozinho acompanhando o caminho dos outros quando, no mesmo instante em que senti falta dela, notei que ela estava ali, novamente a meu lado. Era ela que caminhava comigo no meio de tanta gente. E eu era feliz neste momento, simplesmente pela sua companhia. Num precioso instante da caminhada, inadvertidamente sua mão tocou na minha. Uma forte energia percorreu todo meu ser. E o dela também, pois senti seu abalo. Então, voei para longe. Voei livre e em paz. No momento em que me senti absolutamente completo e equilibrado com todo o universo, ela novamente apareceu. Ela estava ali só pelo amor que nos unia e nos atraiu a voar juntos, pois, como eu, ela também era completa e não mais precisava de outro para simplesmente ser. Voamos cercados por duas mandalas, uma minha, outra dela. Ao mesmo tempo belas e feias, representavam um passado onde estivemos presos, um momento de ruptura e uma posterior libertação. Cada uma desenhada de uma forma, cada uma por um espírito livre. Ali, flutuando entre nossas mandalas, lembramos que nos libertamos de nossas antigas prisões numa mesma época justamente porque nos uníramos e, assim, ficamos fortalecidos pelo nosso amor. Voando livremente pudemos ver que o amor permanecia, pois ele próprio é atemporal. Beijamo-nos profundamente. Nossos lábios moldavam-se naturalmente um ao outro de tal forma que se tornaram um. Nossas mãos se entrelaçaram em todos os corpos. O odor dela, doce e suave, tornou-se um com o meu. Nossos corpos desnudos se uniram e reuniram, fundindo-se num só. Livres, banhados num imenso oceano de amor, voamos juntos. Rodopiando num estado de sublime reunião com o Todo nos amamos e nos penetramos em todos os tempos, todas as dimensões, todas as vidas. Meu doce e suave amor, há quanto tempo esperei por este momento!

Abri os olhos lentamente e percebi que sou livre. E que conheço o amor.

Olhei para o Sr. Pilar e vi que o amava. Novamente eu me sentia como no evento do ônibus. Não havia o pensar e a razão, mas algo acima disso. Eu amava aquele senhor, as pessoas que ali estavam, a árvore cujas folhas balançavam ao vento assim como este que trazia um agradável frescor a nós. Eu amava profundamente o Criador e isso era Tudo!

Então entendi que o Amor divino e universal é muito maior do que o amor humano, cheio de suas próprias intenções e necessidades de compensações. O Amor divino, também presente em nós, é puro e incondicional. Percebi que eu já não tinha muitas perguntas e, quando entendi que a paixão é apenas um recurso para despertar a visão temporária do amor naqueles que ainda estão adormecidos, passei a admirá-la ainda mais, por um lado, e a valorizá-la menos, por outro. Entendi que a paixão, para seres como o Sr. Pilar, é um sentimento superado, pois ele sente, constantemente, algo muito maior do que ela. Algo que provoca sensações bastante mais intensas e profundas. Algo a que chamamos de amor. Com o incremento do desenvolvimento e da consciência, uma pessoa passa a perceber e a viver o Amor divino que está presente na essência de tudo, inclusive na sua.

O Sr. Pilar sumira da mesma forma como aparecera. Isso não me surpreendeu. Com amor me levantei e algumas pessoas olharam simultaneamente para mim com um sorriso estampado em suas faces. Não me surpreendi novamente, sorri para elas e sai. Amamo-nos ali.

Referências (as cores indicam transcrições literais feitas neste texto):

Palestra 44 de Eva Pierrakos; Pathwork (http://www.pathwork.org/); Pw044-AS FORCAS DO AMOR, DE EROS E DA SEXUALIDADE.doc
A história do amor no ônibus é fato real vivenciado por Luciano Pillar, autor deste texto, e foi descrita tal e qual aconteceu.

DEUS E A INTERNET

CAIU NA REDE, É “DEUS”!

O mundo ocidental, dominado pela religião cristã*, se vangloria de sua cultura e seu modus vivendi, muito mais liberais e “justos”, socialmente falando, do que os dos povos islâmicos, por exemplo, mas, como boa parte do mundo, também não olha para seu próprio umbigo, com isso deixa de ver ou admitir as mazelas e absurdos que o cristianismo perpetua há séculos e a má influência que, nos últimos anos, vem exercendo principalmente sobre os jovens. Nem os escândalos envolvendo padres pedófilos nem as contínuas denúncias de fraudes financeiras contra pastores das igrejas evangélicas põem freio à escalada vertiginosa do cristianismo, aqui no Brasil, além de em outros lugares, é claro, que conquista a cada dia jovens com seus movimentos de renovação (catolicismo) e com seus mega-cultos (evangelismo), tendo agora como poderosa aliada a ultra-famosa e utilizada WWW.
O poderio da Igreja de Roma, herdado desde o apogeu do Império Romano e alavancado com o ouro e as terras, facilmente adquiridos através de sua aliança com imperadores e reis, fez do cristianismo uma “entidade espiritual” frondosa, suficientemente capaz de defender seus interesses, desarticular seus opositores e propagandear sua prática como uma necessidade na formação do caráter do homem, um elemento sem o qual, dizem seus mais fervorosos praticantes, não haveria moralidade sobre a Terra e que é imprescindível à salvação.
Se tudo isso fosse verdade, mas não é!, todas as outras religiões do mundo (e não são poucas) não teriam qualquer valor, uma vez que seus fiéis não adoram “o Deus cristão” (a saber: o Pai de Jesus Cristo, seu único filho, e dos quais somos meras criaturas, até que aceitemos “de coração” que este morreu na cruz por nossos pecados e que somente o seu sangue poderá nos redimir diante do Criador).
Assim como o cristianismo tem seu líder maior, o Papa, e toda uma hierarquia de sacerdotes (homens que se ocupam em levar ao povo os ensinamentos e a filosofia de sua doutrina religiosa), as outras religiões institucionais, como o judaísmo, o islamismo, o budismo e o hinduísmo, também os têm; assim como o cristianismo tem suas dissidências e seus sincretismos, as outras, também. Esse quadro, ou seja, essa diversificação ou “degeneração” do caráter originário de um credo muitas vezes só é percebido em seus elementos superficiais, quase nunca em sua estrutura ou base. Pouca gente, sobretudo os novos convertidos, sabem ou, ao menos, se interessam em saber, se há alguma real diferença entre o catolicismo que praticavam e o neopentecostismo que acabaram de adotaram.
Um jovem indiano da década de 1940, que provavelmente viveu e foi envolvido pela campanha de libertação da Índia do domínio britânico, capitaneada por Mahatma Gandhi, deve ter se orgulhado de ter um líder politicorreligioso hindu daquela estirpe e se mantido fervoroso em sua fé, orando a Vishnu, Brahma ou Krishna (nomes com os quais relacionam Deus), para que “os invasores” saíssem do seu país, talvez sem considerar (ou mesmo saber) que os ingleses eram cristãos, e que, portanto, deveriam ser considerados “infiéis” ou “hereges” (já que não professavam a mesma fé que a sua). Evidentemente, entretanto, outras pessoas daquele tempo, sabendo bem a força que a religião exerce sobre as massas, usou da figura de Gandhi para fomentar o ódio pelos ingleses (um sentimento que potencializaria exponencialmente qualquer reação política em favor de uma causa considerada legítima e justa). Só para registro, existem hindus há pelo menos 4 mil anos e hoje são cerca de 750 milhões no mundo inteiro.
O mundo assistiu estarrecido, no fatídico 11 de setembro 2001, aviões da própria linha comercial americana, que haviam sido seqüestrados por radicais islâmicos, serem atirados contra as Torres Gêmeas do World Trade Center. Segundo se sabe, através de um plano “diabolicamente” traçado pelo líder terrorista, Bin Laden, os E.U.A deveriam conhecer e reconhecer a força do Islã (ou melhor, “O Poder de Alá”), pagando por sua prepotência política e por seu combate aos povos islâmicos com a morte de centenas de americanos de uma forma cruel e inesquecível. O kamikase islâmico, seja o soturno homem-bomba, seja o estratégico piloto-sequestrador, é considerados um homem abençoado, digno de honras e louvores, tanto na Terra quanto no Céu. O mundo ocidental cristão, representado fortemente pelo povo americano, é visto por cerca de 1,3 bilhão de muçulmanos do mundo inteiro como “o grande inimigo”.
Quando os jovens estudantes brasileiros lêem em seus livros de História que, ao atracarem na costa daquela região continental, mais tarde denominada de “Brasil”, os portugueses encontraram “seres semi-nus”, aos quais deram o nome de “índios” (por erroneamente acharem que tinham chegado “às Índias”) e, imediatamente, tratarem de celebrar uma missa (ritual da Igreja cristã) para, junto com o poder politicoarmamentista português, também aqui instaurar seu poder religioso, esse fato histórico nada diz a seu coração religioso (menos ainda às suas mentes). Quando, através das mesmas leituras, esses jovens ficam sabendo dos métodos empregados pelos jesuítas para transformar, a qualquer custo, “aqueles selvagens” em “povo de Deus”, isto é, para que deixassem sua religião natural e primitiva e aceitassem a “única fé verdadeira”, a fé cristã – também, conhecer esse fato não comove nenhum pouco os corações desses estudantes (quem dirá às suas mentes!).
A maioria das pessoas talvez jamais parou um único momento sequer de sua vida para refletir sobre sua “herança religiosa”. Por que sou cristão? católico? hindu? muçulmano? Se as pessoas o fizessem, teriam muito sobre o que pensar – e é exatamente por isso que não o fazem! Preferem o comodismo de aceitar o que já foi aceito, por seu pais, parentes, amigos ou vizinhos; acomodam-se à mesma religião dos seus pais; concluem, sem refletir, que sua prática religiosa é “a prática universal”. Mas estão enganadas!
Uma parcela significante de jovens brasileiros, ao longo das últimas décadas, vem sendo conquistada pelos cultos extravagantes de pastores das novíssimas igrejas neopentecostais, que brotam deste “solo da mãe gentil”, tal qual o capim nasce no chão de qualquer lugar. Com isso, esses jovens imaginam que estão “mais perto de Deus” (apesar de parecerem muito longe, pois eles só oram gritando, a exemplo de seus pastores, que só sabem pregar “berrando”). O culto-show torna o espetáculo religioso atrativo para um sem-número de adolescentes e jovens que não sabem ler nem seus livros de História, falar ou escrever razoavelmente sua língua, mas acreditam que, carregando suas Bíblias debaixo do braço e se congregando várias vezes por semana, estão agradando àquele que eles acreditam ser “o Deus único”, a despeito da fé diferente de milhões de outras pessoas, mundo afora.
As redes sociais estão pululando de jovens ávidos por escrever e deixar registrado o que pensam, não só para seus amigos íntimos reais, mas também para os novos amigos virtuais. Ali, é muito comum encontrarmos postagens nas quais evidenciam-se as tendências ou práticas religiosas desses jovens. A palavra “Deus” está na rede em um sem-número de publicações, usada desde o seu sentido cultural (“ah, meu Deus, que droga!), até às mais contundentes expressões de louvor (“Seja forte, minha amiga, o nosso Deus te fará vitoriosa!”). “O que há de mal nisso?” é o que muitos perguntarão.
Quem assim perguntar certamente é uma daquelas pessoas já citadas aqui, linhas acima. Daquelas que professam uma fé, acomodadas e convictas que é “a fé verdadeira”, desconsiderando assim todos os outros tipos de fé e de fiéis. No entanto, além desse drástico e rústico pensamento, essas pessoas ainda deixam de perceber que são promotoras, juntamente com milhões de outras, da “banalização de Deus”. Elas convivem com esse “fenômeno degenerativo” do ser supostamente absoluto, empregando nomes “bonitos”, que nada têm a ver com ele – “pregação”, “louvor” e “testemunho”.
“Deus”, portanto, caiu na rede, foi apanhado maliciosamente pelos “tentáculos da Internet” e, se depender de pessoas religiosas como essas (que usam a todo momento “Deus” quase como “senha” para o Facebook, o Twitter e seus e-mails) e de pastores, que não querem apenas “berrar” nas ruas e dentro de suas igrejas, mas também abocanhar rebanhos Web afora; se depender desses aí, Deus logo perceberá que fez uma bobagem ao enviar seu Filho Jesus para ser morto tão cruelmente para nos salvar de nosso próprios pecados. Se tivesse esperado só uns dois mil anos (que para “Ele”, que tem a eternidade, não significam nada), salvaria a todos através de um link direto para o céu. O slongan poderia ser este: “Linkou, salvou!”. O diabo é se “o Diabo” tiver caído na rede primeiro. Aí... é melhor deletar tudo...


*O cristianismo continua a reunir a maioria dos fiéis de todo o mundo, constituindo cerca de um terço da humanidade. Os restantes 67% dividem-se entre religiões não cristãs, dentre as quais as mais importantes são o islamismo, o budismo e o hinduísmo. Mais de 28% dos cristãos concentram-se na Europa, enquanto outros 24% estão na América Latina. Só o número de Católicos ultrapassa, em 1999, a marca de 1 bilhão de adeptos, ficando em 17,5% da população do planeta, segundo aEnciclopédia Britânica. No decorrer da década de 90, os protestantes aumentam o número de adeptos em 120%. O islamismo avança nos países onde essa religião já é predominante: o crescimento é de 157% nos anos 90. As religiões orientais, como o budismo, o zen-budismo e o hinduísmo, no ocidente, passam, no final do século XX, por um período de crescimento.
Fonte: almanaque abril 2001 - religião - página 60.

sábado, 1 de outubro de 2011

Estreia na Mythos Editora

A EXISTÊNCIA COMO REPRESENTAÇÃO DA VONTADE




Com esse artigo, eu inicio minha participação numa Editora nacional com grandes publicações no campo da Filosofia e da Espiritualidade - áreas em que venho me destacando ao longo dos últimos cinco anos, durante os quais conquistei até agora nada mais, nada menos, do que 8 publicações em 4 diferentes revistas de 3 Editoras distintas. O que para mim é uma honra e coroa esforços que envidei nesses últimos anos, no sentido de não ficar estagnado na mera graduação, uma vez que sempre acreditei que há muito mais a fazer.
Em breve, será publicada minha entrevista à Revista Sexto Sentido, na qual trato da questão da suposta vida em outros planetas.

Quero, de público, agradecer mais uma vez à Sra. Ana Elizabeth Cavalcanti pelo convite que fez a mim para esta participação na Revista, pelo apoio que demonstrado aos meus projetos e pelo carinho como me recebe e responde nos e-mails.

Dito isto, ponho na boca de vocês um pouco do mel de minhas palavras, que pode ser encontrado inteiramente na Revista "Grandes Temas do Conhecimento - Filosofia" Nº05, já nas bancas.

Na página 44 da Revista, lemos:

"Se observarmos com criterioso escrutínio, perceberemos que tudo que vem à vida teima em existir, a despeito das intempéries, obstáculos e dificuldades que inapelavelmente se apresentam em contrário. Os espermatozóides correm em direção ao óvulo numa competição salutar e benfazeja de causar inveja a qualquer maratona de tradição internacional ou corrida da bilionária Fórmula 1; a semente que cai ao solo busca sofregamente penetrar nele, para dali extrair seu alimento e, em seguida, brotar triunfante em direção ao sol, que dará alento a uma haste frágil, a qual, em breve, se tornará um frondoso caule. Exemplos na natureza existem num sem-número de casos que ocorrem a todo momento, sem cessar. A vida vem da vida, é certo; mas, acima de tudo, a vida vem da vontade de viver.
Essa foi a conclusão a que chegou um dos mais célebres filósofos pós-kantianos – seu nome, Arthur Schopenhauer (1788-1860). O rótulo de pessimista, cunhado por historiadores da Filosofia, estigmatiza e macula a memória de um dos homens mais sinceros e profundos no tocante a expressar com realismo o que é a vida e, sobretudo, o que é a vida para o homem. “Agora terei de ouvir novamente que minha filosofia é desesperada somente porque me expresso conforme a verdade, mas as pessoas querem que se lhes diga que o Senhor Deus tenha feito tudo do melhor modo. Dirijam-se à igreja, e deixem em paz os filósofos. Ao menos não exijam que estes exponham suas doutrinas conforme seus ensinamentos: isto, fazem-no os trapaceiros, os filosofastros: a estes, podem encomendar doutrinas à vontade”, eis o seu desabafo contra aqueles que esperam que a Filosofia seja a parteira de boas-novas, de verdades doces e de lucubrações pueris".