quinta-feira, 21 de março de 2013

POEMAS QUE NIETZSCHE JAMAIS ESCREVEU (I)

OS QUE SABEM...*


Os que sabem por que nasceram
Não aceitam que digam por que estão neste mundo;
Os que sabem por que vivem
Não toleram que lhes digam como devem viver.

Os que sabem o que dizem
Não esperam que lhes ponham palavras na boca;
Os que sabem por que gritam
Não pedem que lhes façam silêncio.

Os que sabem donde vieram
Não perguntam pelo caminho de casa;
Os que sabem o que encontrar
Não procuram pelo que perderam.

Os que sabem a hora de partir
Não carregam relógios com ponteiros;
Os que chegam na hora marcada
Não se perturbam com o tempo perdido.

Os que sabem o que fazem
Não querem que lhes digam o que fazer;
Os que sabem suas próprias tarefas
Não tentam cumprir as obrigações de outrem.

Os que sabem ver o sol do meio-dia
Não se incomodam com a cegueira dos tolos;
Os que sabem da escuridão da meia-noite
Não precisam de luzes no fim do túnel.

Os que sabem contar estrelas cadentes
Não perdem seu tempo olhando vagalumes;
Os que sabem sonhar acordado
Não esperam que o sono lhes roube os sentidos.

Os que sabem escrever profecias
Não se ocupam em fazer previsões do tempo;
Os que sabem medir quadrantes celestes
Não carregam consigo régua ou compasso.

Os que sabem onde habita o Deus dos corações
Não se deslumbram ao ver os tronos dos reis;
Os que sabem como surgem e desaparecem impérios
Não se admiram com templos feitos de pedras.

Os que sabem voar imensidões sem fim
Não sentem vertigem à beira de penhascos.
Os que sabem criar ouro e marfim
Não desdenham dos que trazem coroas de espinhos.

Os que sabem onde fica o Esconderijo do Altíssimo
Não repreende os que se escondem em escuras cavernas;
Os que sabem dos obstáculos e grilhões do mundo
Não se perdem em labirintos feitos de vidro.

Os que sabem por onde a água acha seu caminho
Não pedem ao solo que desfaça suas frestas.
Os que sabem que o fogo é mais que um brilho
Não acendem fogueiras em meio a florestas.

Os que sabem caminhar sobre o mar bravio
Não precisam de barcos para sua travessia;
Os que sabem ouvir as palavras das conchas
Não esperam que o vento lhes sussurre ao ouvido.

Os que sabem andar sobre areias escaldantes
Não se importam com o sol de um deserto infindo;
Os que sabem acalmar tempestades gigantes
Não imploram que a brisa já esteja vindo.

Os que sabem ler as palavras malditas
Não escrevem em tábuas de doze iletrados;
Os que sabem correr por terras infinitas
Não deixam de ter o Universo em seus passos.

Os que sabem compreender a Vida
Não temem as aflições da Morte,
Pois mesmo os eternos não são imortais.

*Parte integrante do livro "Poemas que Nietzsche jamais escreveu - Filosofia Poética"
*Proibida a reprodução total ou parcial deste poema, sem a devida autorização por parte do seu autor.

POEMAS QUE NIETZSCHE JAMAIS ESCREVEU (II)

QUEM NÃO PODE MAIS VOAR*


Quem não pode mais voar
Aprende a fazer seu caminho,
Sozinho;
Quem não pode mais voar
Contorna o leito desse rio,
Tranquilo.

Quem não pode mais voar
Acende seu olhar, no escuro,
No tempo;
Aprendendo a caminhar
Mais leve do que o pensamento.

Eu, que caminhei,
Rolei as pedras
Que encontrei pelo caminho;
Chutei as latas, as garrafas,
Os espinhos;
Parei para descansar
Na sombra que encontrei.

Eu, que caminhei,
Virei esquinas,
Não temi encruzilhadas.
Ó minha mãe,
Teu santo nome, minha espada.
À luz do sol,
À meia-luz, eu caminhei...

Quem não pode mais voar
Aprende a calejar o chão
Com os sapatos;
Quem não pode mais voar
Não sonha com lugares altos
Descalço.

Quem não pode mais voar
Aprende a caminhar com pernas
Ligeiras;
E, aprendendo a caminhar,
Descansa dessa vida
Inteira.

Eu, que já voei,
Por céus e terras nunca antes
Voejados;
Por sobre mares nunca antes
Navegados.
No horizonte, o teu olhar
Me possa ver...

Eu que já voei
Nos pontos cardeais gritei
Aos sete ventos;
Ouvi um deus gemer
De tanto sofrimento.
À luz do sol,
À meia luz, também voei...

* Parte integrante do livro "Poemas que Nietzsche jamais escreveu - Filosofia Poética".
* Proibida a reprodução total ou parcial deste poemas, sem a devida autorização do seu autor (direitos reservados Copyright)

quarta-feira, 13 de março de 2013

CIÊNCIA, FILOSOFIA, RELIGIÃO E AUTO-CONHECIMENTO (Parte I)



As fronteiras do conhecimento estão cada vez mais se estreitando e fazendo, de certa forma, com que a Ciência e a Religião tendam para um mesmo ponto, embora ainda haja resistências por parte de alguns cientistas mais tradicionais e religiosos mais radicais. No entanto, essa espécie de obstáculo ao novo tem seu lado bom, pois evita um “boom” de euforia que, muito provavelmente, prejudicaria a boa avaliação dessas tendências e seus resultados. Podemos destacar alguns expoentes disso tudo, na Filosofia, com Arthur Schopenhauer(1), que foi beber nas fontes budista e hinduísta para escrever sua obra-prima “O Mundo como Vontade e Representação”; na Física, com Fritjof Capra(2) e o seu “O Tao da Física”; na Mecânica Quântica, com William Arntz(3), Betsy Chasse(4) e Mark Vicente(5) e seu ousado filme (que virou o livro) “Quem somos nós?”; na Medicina, o doutor Deepak Chopra(6) e seus inúmeros livros, que mostram sua prática médica recheada de elementos da Medicina Ayurvédica; na Religião, com Allan Kardec(7) (Espiritismo) e Swami Rama(8) (Hinduísmo), além do professor de auto-sugestão mental, Arthur Riedel(9), entre outros.

A leitura que tenho feito, ultimamente, nesse sentido, isto é, os artigos e obras aos quais tenho me dedicado, despertou em mim o desejo de escrever aqui uma série de textos, nos quais procurarei mostrar aos meus leitores como a Ciência vem (e não é de hoje) demonstrando maior interesse pelos textos antigos, de tradições orientais, por ter feito descobertas no campo da Física, por exemplo, que vão ao encontro do que há muito fora expresso naqueles compêndios ditos religiosos.

Abaixo, transcrevo um artigo muito interessante, que abre esta nova seção neste blog. Boa leitura a todos!

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O QUE, AFINAL, É A REALIDADE?*

O grande esforço do homem tem sido, no curso da história, o de procurar compreender a realidade, revelar o real. Como a realidade pode ser conhecida. Aristóteles e, muito mais tarde, Locke, proclamara que todo conhecimento era proveniente dos sentidos; os sentidos e os aparelhos que os ampliam seriam os instrumentos do conhecimento. Essa visão do senso comum vem sendo contrariada desde o início do século pela Física, que nos tem mostrado, de modo contínuo, uma realidade bem distinta: aos poucos, os denominados corpos simples foram reduzidos a partículas idênticas; estas foram sendo reduzidas a outras ainda mais elementares, enquanto, por suas vez, as mais diferentes radiações foram sendo reconhecidas como expressões de ondas, distintas apenas no comprimento e em sua freqüência. Mais ainda, energia e matéria foram unidas pela teoria da relatividade restrita, enquanto o espaço e o tempo vieram a formar um continuum na visão da teoria da relatividade geral. Matéria e energia, espaço e tempo, e gravitação tornaram-se apenas deformidades do continuum. A própria matéria do mundo, no dizer de Arthur Eddinton(10), não seria senão matéria da mente. Todos os processos físicos, as mudanças existentes no universo, resultam da intermediação de quatro forças elementares – a força nuclear forte, a força nuclear fraca, a força eletromagnética e a força gravitacional.

Isso tudo nos permite reconhecer que aquilo que vemos e julgamos ser a realidade não é senão uma aparência, sem dúvida dependente da mente do observador e da estrutura física dos sentidos a aparelhos com que observa o mundo. De qualquer modo, são estas as únicas “realidades” ou conexões de acontecimentos capazes de serem percebidos? Peat(11) e Bohm(12), em Ciência, Ordem e Criatividade (1987), destacam que toda a percepção sensória depende da disposição total da mente e do corpo, disposição esta que depende da cultura geral e da estrutura social, fatores que também condicionam a percepção através da mente.

De que modo foi possível conceber este universo? Possui ele alguma realidade ou é a realidade? As religiões que se apossaram da revelação passaram a expressá-la através de mitos e dogmas, porém são apenas formas de expressão. No fundo, percebemos que uns e outros procedem de experiências pessoais diretas que foram cristalizadas pelo sacerdócio na forma de princípios, tornando-se artigos de fé. Este universo realmente existe? E, se existe, é possível redescobri-lo. Se se pretende experimentar, é necessário conhecer que instrumento deve ser utilizado para a investigação.


(1)Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de setembro de 1860) - filósofo alemão do século XIX;
(2)Fritjof Capra - físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica;
(3)William Arntz - diretor e produtor de cinema americano;
(4)Betsy Chasse - cineasta internacionalmente conhecida, autora e palestrante;
(5)Mark Vincente - palestrante, autor, e diretor premiado;
(6)Deepak Chopra - médico indiano radicado nos Estados Unidos, formado em medicina pela Universidade de Nova Deli. É também escritor e professor de Ayurveda, espiritualidade e medicina corpo–mente;
(7)Allan Kardec - pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869), educador, escritor e tradutor francês, notabilizou-se como o codificador do espiritismo (neologismo por ele criado), também denominado de Doutrina Espírita;
(8)Swami Rama - (1925-1996) era um índio yogi, conhecido por ser um dos primeiros iogues a permitir que cientistas ocidentais, da Clínica Menninger, ainda na década de 1960, estudassem a sua capacidade de controlar voluntariamente os processos corporais (tais como batimentos cardíacos, pressão arterial e temperatura corporal), que normalmente são considerados não-voluntários;
(9)Arthur Riedel - professor de otimismo, autor do livro “Hei de Vencer”, uma filosofia de vida prática, baseada na auto-ajuda mental e no desenvolvimento da vontade;
(10)Arthur Eddinton (Kendal, 28 de dezembro de 1882 — Cambridge, 22 de novembro de 1944) - astrofísico britânico do início do século XX;
(11)F. David Peat - físico holístico, realizou pesquisa em física do estado sólido e participou da fundação da teoria quântica;
(12)David Bohm (1917-1992) – físico que influenciou significativamente a cultura do nosso século.

*Adaptado de “Mediunidade e Autoconhecimento”, revista Luz do Espiritismo (autor não mencionado)