DEUS
NÃO ESTÁ MORTO, DEUS NÃO EXISTE!
Há
milhares de anos, o homem teceu para si a ideia de “Deus”. Não apenas o seu
criador, do mundo e de todas as coisas, mas um ser todo-bondade, cujo bem é seu
único atributo, embora, para tanto, também seja onipotente, onisciente e
onipresente, qualidades sem as quais ele não poderia ser o detentor de todo o
bem. Dizem que essa ideia surgiu por pura necessidade – era preciso atribuir
uma causa para todas as coisas; uma força, uma entidade, um ser, que também, e
necessariamente, fosse causa sui,
para que não houvesse uma busca por causas das causas ad infinitum.
A
Religião se apropriou desse “Deus”, e tudo seria menos complexo se ela fosse
uma só – “a religião da humanidade com um único Deus”. Mas não! Ela se
diversificou em muitas e, ao mesmo tempo, diversificou a ideia de “Deus”. De
tal modo que “Ele” não parece o mesmo em cada uma delas. Durante muito tempo,
em algumas das religiões mais antigas de que se tem conhecimento, “Ele” nem
mesmo era “um” – por lá se adoravam “deuses”, cada qual útil a certas necessidades
humanas. Então, adorava-se ao “deus” que lhe conviesse – o que, efetivamente,
gerou mais dissidências e divergências. Em outras, nem mesmo era “Ele” – era “Ela”,
um “deus feminino”, ou seja, uma “deusa”.
O hinduísmo, uma das grandes religiões do mundo em quantidade de seguidores, tem um panteão repleto de deuses e deusas que, ao que dizem, convergem para um único ser supremo, mas são variados os nomes que dão a "Ele", segundo a variedade de seitas que existem no Oriente. E esse ser supremo tanto pode ter uma aparência antropomórfica, como é o caso de Krishna, quanto a de um animal, como Vishnu, que, às vezes, é retratado como um peixe. Dizem
que a religião budista é uma “religião sem Deus ou deuses”. Buda, ou melhor, os
budas, como Siddharta Gautama, são seres elevados – homens que chegaram à
excelência da qualidade humana, e decidiram zelar por nossa espécie, muitos
deles renunciando ao Nirvana, que corresponderia no cristianismo a “chegar ao
céu”. Mas, no caso budista, não fica muito bem explicado que “céu nirvânico”
seria esse, quem o teria criado e qual a necessidade dele estar “lá”. Os
hebreus, cuja religião é o judaísmo, dão ao seu “Deus” o nome de “Jeová” – o deus
guerreiro. Um deus que exige do seu povo adoração, obediência e uma vida
irrepreensível. Quando tais requisitos não são observados, é muito comum que
Deus-Jeová produza muitas calamidades, causando mesmo até a morte de milhares
ou milhões (vide o Velho Testamento) – o que, certamente, já nos dá o direito
de considerar que não há aí qualquer possibilidade de Jeová ser “todo-bondade”.
A
Bíblia é um livro complexo que tenta “amarrar” numa só verdade ou compreensão
deuses bastante diferentes, a saber: o guerreiro Jeová dos judeus e o Pai no Céu,
anunciado por Jesus Cristo. Isto é, tenta nos fazer crer que o Jeová, que se
ira com muita facilidade (até porque os homens são imperfeitos e cometem erros
a todo momento), é o mesmo que “amou o mundo de tal maneira que enviou seu
próprio filho, para sacrificar-se pelos homens pecadores”. O que aconteceu ao
velho Jeová? Teria o seu coração amolecido com o passar dos anos? Por que não
destruir todos os pecadores, como fizera outrora aos de Sodoma e Gomorra? O que
pessoas como Maria Madalena, uma prostituta, que pelas leis judaicas deveria
ser apedrejada em praça pública, e Pedro, um covarde, que negou por três vezes ser
seguidor do Cristo, teriam de tão especial aos olhos de “Deus-Jeová” que
merecessem, assim como outros milhões de semelhantes a eles, o sacrifício do “Cordeiro
de Deus”? Difícil saber, não é mesmo? Então, fica a indagação, para , quem
sabe, uma resposta plausível a posteriori,
quando a humanidade poderá está mais madura para questões tão complexas (caso
os homens não concluam seu intento de destruírem-se uns aos outros em nome de
Deus, como têm feito até aqui, é claro!)
O
islamismo chama seu “Deus” de “Alá” e, assim como o cristianismo tem seu livro
sagrado e seu profeta maior, ele também tem os seus: o Alcorão e Maomé,
respectivamente. Os muçulmanos são muitos devotados e praticam um culto
bastante rigoroso, com rituais que não podem deixar de ser observados, sob pena
de o faltoso ser considerado um infiel e sofrer duríssimas penalidades por parte
de sua comunidade. O islamismo também exige respeito até dos que não professam
sua fé. O que está bastante claro na atualidade, com todos esses eventos, que a
imprensa insiste em veicular com termos disfarçados. Durante anos, na Idade Média,
a Igreja Católica promoveu um grande conflito entre muçulmanos e cristãos, nos
episódios que foram chamados de “As Cruzadas". Por Trás de toda fé e de toda
propaganda articulada pelo Vaticano, o objetivo era mesmo retomar terras
consideradas da cristandade das mãos dos mouros (muçulmanos) – locais considerados
sagrados, porque lá estivera ou vivera o Cristo. O certo é que todas essas
dissidências ou divergências de pensamento dificultaram, e ainda dificultam,
uma compreensão cabal da existência de Deus e do que ou quem seria “Ele”.
Na
segunda metade do século 19, o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)
declarou, através do protagonista do seu livro “Assim falava Zaratustra”, “Deus morreu”, e já em "A Gaia Ciência" (Aforismo 125), o filósofo se delonga em expor questionamentos que muitos se fariam decorrentes da tomada de consciência da "morte de Deus". O filósofo teve uma vida repleta de males e, nos últimos anos de
existência, sua saúde deteriorou bastante, culminando em loucura, o que fez com
que seus adversários e desafetos, os cristão mais precisamente, fizessem também
uma declaração contra ele, parafraseando-o ironicamente: “Deus disse ‘Nietzsche
está morto!'”. Nesse pormenor, os cristãos podem bater no peito, vitoriosos:
realmente Nietzsche está morto e a ideia Deus ainda sobrevive até os dias de
hoje.
No
entanto, há sobejas evidências de que nem cristãos, nem judeus, nem muçulmanos,
nem ateus, nem seguidores do filósofo Nietzsche, estão com a razão. Não há
nenhuma prova (ou mesmo vestígios) de que um Deus-bondade, um Deus-guerreiro
ou um Deus-justiça exista (ou "seja"). O que a Razão pode nos levar a perceber é que a ideia Deus tornou-se um disparate diante de tudo o que testemunhamos, não só ao longo da História, como também no nosso dia-a-dia. O que há em nossa existência é o total desamparo por parte de qualquer ser ou força suprema, exceto os atributos que nos foram dados pela mãe Natureza. A sentença de Nietzsche foi mal
interpretada por muitos (sobretudo pelos obtusos cristãos). O filósofo não
pretendia informar sobre a morte de uma “divindade suprema”; ele vaticinava,
esperançoso, a morte da ideia “Deus”. Uma ideia que, embora para os religiosos
seja salutar e benfazeja, para o homem não-religioso, que faz uso da razão, que
observa o mundo e o quer modificar, é uma ideia totalmente perniciosa e
falaciosa. Por quê? Muito simples! Esse “Deus” (fosse Ele o que)
não faz (nem faria) desse mundo, ou das pessoas desse mundo, algo melhor, sendo Ele próprio motivo de intolerância, desavenças pequenas e guerras descomunais. Somente um grandíssimo
tolo, na verdade, um insano, conseguiria ver em qualquer coisa que se pudesse
atribuir a “Ele” algo de “plena bondade ou justiça”.
Este
mundo pode parecer “cosmos” (ordenado) em suas leis gerais, ou seja, que não
levam em consideração os atos humanos (o fato de serem bons ou maus, ou agirem
bem ou mal); leis que equilibram este Universo, de maneira que sintamos certa
segurança na regularidade quase invariável das coisas. Basta observarmos que todos
estamos sujeitos aos mesmos horrores, às mesmas vicissitudes, às mesmas
calamidades etc, etc. Ninguém está a salvo de uma doença terrível, de uma morte
violenta e injusta, ou de qualquer outro fatalidade medonha. Somos todos
vítimas do tempo, da sorte, dos que não nos querem bem e dos que simplesmente,
sem qualquer razão, podem nos fazer o mal. Nenhum “Deus” apresentado até agora
pelas religiões se demonstrou nosso “protetor”, “pai” ou “amigo”, no sentido em
que esses termos têm sua melhor definição. Estamos totalmente desprotegidos e
sós, a despeito de todas as orações, todas as adorações, todos os nossos atos
de fé, todos os nossos pedidos de clemência. A verdade é que estamos como naus
à deriva, e o nosso medo nos faz clamar pelo invisível, ou pior, pelo
inexistente.
Os
milhares de anos de adoração em vão, de cultos e rituais pueris e insanos, não
foram ainda suficientes para nos despertar dessa “loucura” – queremos “Deus”;
queremos qualquer “Deus”; queremos qualquer coisa que nos dê alívio, paz,
segurança. Por isso mantemos a chama acesa no altar da esperança – seremos salvos
pelo sangue de um justo, pela espada de um guerreiro ou pelo favor da morte, a
única até agora capaz de tirar de sobre nossos ombros o peso da existência e da
condição falaciosa de “condenados à liberdade”. “Liberdade” já deveríamos saber
há muito o que é: uma gaiola imensa, da qual não conseguimos ver as grades,
senão quando esbarramos nelas. E então dizemos: “Melhor assim! Lá fora poderia
ser pior para mim!”. Esse pensamento não é raciocínio, é medo. Não temos medo
de Deus nem do que Ele pode nos dá ou tirar (afinal Ele é bom, não é?) – temos medo
de nós mesmos, pois assim é que nos ensinaram, porque de outra forma jamais
adoraríamos um “Deus”; jamais inventaríamos um “Deus”; jamais sequer
cogitaríamos tal possibilidade. Portanto, que seja o medo o guardião de todo e
qualquer “Deus”. Pelo medo (se preferirem termos bíblicos, “pelo temor) Deus
está justificado... Mas nem por isso “Ele” existe!
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